Dia do Professor: docente de EPT abre a porta para o universo produtivo
Quinze de Outubro, Dia do Professor, evoca a importância dos profissionais que formam todos os outros. Entre eles, está o docente de EPT, responsável pela educação dos jovens para sua entrada digna no mundo do trabalho. Números, dados e o depoimento de uma jovem professora paraibana ilustram a relevância desses profissionais, bem como a necessidade de sua valorização e formação inicial e continuada de qualidade.
No Brasil, os professores de EPT de nível médio atuantes em escolas públicas somam quase 98 mil, segundo o Censo Escolar 2020. Esse número deve crescer no próximo ano, em razão do itinerário de formação técnica e profissional, ou quinto itinerário, que passou a ser ofertado a todos os milhões de brasileiros que cursam o Ensino Médio e que requererá mais profissionais do campo profissional e tecnológico.
A maioria dos docentes de EPT de nível médio do país encontra-se nas redes estaduais de ensino: 63,44% trabalham nelas, 34,27%, na rede federal e 2,29%, nas redes municipais. Nesse mesmo universo de 98 mil, 60,91% são concursados (efetivos/estáveis), 11,26% atuam em regime CLT e 27,29% possuem vínculos de contrato temporário — o que representa um desafio para as redes no sentido de ampliar concursos e contratações.
Os números do Censo mostram ainda que o quadro de professores da rede federal é mais jovem e tem mais escolaridade do que o de professores das redes estaduais — outro ponto de atenção para os gestores estaduais de modo a elevarem a qualificação de seu corpo docente. Na rede federal, 40,59% têm mestrado, 33,03% possuem especialização e 12,54%, doutorado. Já nas redes estaduais 51,55% têm especialização e 43,39% não possuem pós-graduação.
Taynara Branco Filha, 25 anos, é um desses 98 mil professores. Atuante desde 2018 na rede estadual paraibana, graduou-se em ciências contábeis pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e antes formou-se em técnica em manutenção de computadores. Hoje, além de ministrar aulas nos cursos de administração e de informática na Escola Cidadã Integral Técnica - Ecit Deputado Genival Matias, em Juazeirinho (PB), é também a coordenadora da base técnica da mesma instituição e cursa uma especialização em administração pública.
Situado na região do semiárido nordestino, no bioma da caatinga, o município fica a 84 km de Campina Grande e a 209 km da capital, João Pessoa, e conta com cerca de 18,5 mil habitantes. Essa Ecit tem 337 alunos no total, distribuídos em 14 turmas, sendo 3 delas do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental e 11 do Ensino Médio integrado ao técnico, das quais 6 são do curso de administração (136 alunos) e 5, do de informática (134 alunos).
Na unidade de ensino há 29 professores. Entre eles, 9 são da base técnica, como Taynara, que atua nas seguintes disciplinas, em 6 turmas e com 131 alunos: negócios inovadores aplicados à administração; direito trabalhista e empresarial; intervenção comunitária; trabalho de conclusão de curso/estágio. Ela conta ao Observatório da EPT sobre o que significa ser professora, o dia a dia da profissão e os desafios e as aprendizagens, sobretudo no contexto da pandemia de coronavírus.

O que é ser professora para você?
Até me emociono para responder [pausa]. É algo indissociável de mim. Não consigo me ver tão completa e inteira, se não estiver em sala de aula, se meus alunos não estiverem comigo. Nós, professores, estamos juntos no mesmo barco e temos de nos ajudar e nos unir mais para que a educação efetivamente aconteça. Além disso, a docência é algo dinâmico: a educação sempre se renova e os docentes se modificam a todo momento. Procuro passar tudo isso para meus colegas. O profissional da educação é algo a ser admirado. Eu sempre os admirei e agora sou um deles — sou plenamente.
Qual a sua opinião sobre o Ensino Médio integrado ao técnico? Há vantagens para os professores e alunos? Quais são elas?
O técnico veio para somar, pois permite ao aluno já sair com uma profissão. Esse é um passo a mais na vida do aluno. Os professores passam a prática para eles, antes mesmo de ingressarem no meio profissional. No terceiro ano, por exemplo, já iniciam os estágios. Isso é importante porque o mercado está cada vez mais acirrado. A coisa que é mais cobrada dos jovens, que é ter experiência prévia, é também a mais difícil de se obter. Como obter experiência prévia antes de entrar no mundo do trabalho? O técnico integrado permite isso. E, tendo uma profissão, o jovem pode ter acesso a um salário, que lhe dá independência e abre portas para o seu futuro, como guardar dinheiro para fazer uma faculdade. Já para o professor é um universo de possibilidades. Ele tem a chance de aplicar diversas tecnologias para formar os alunos e tem a oportunidade de lidar com o adolescente e de inovar em suas aulas porque esses jovens nos estimulam a isso. A docência traz a inovação e faz com que nós nos adaptemos sempre, o que nos desenvolve profissionalmente.
O que você diria para os alunos de 9º ano do Fundamental sobre a educação técnico-profissional?
Digo o que sempre falo para os meus alunos: ‘Quem dera se nós, professores, na nossa época, tivéssemos tido essa grande oportunidade de ter a prática profissional na escola, de fazer a ponte entre conteúdos, com interdisciplinaridade, ou seja, de estudar em um currículo inovador’. Até mesmo o início da prática científica, que está no currículo, é algo muito bom, porque já prepara o estudante para o curso superior. Ele chega muito mais preparado a essa outra etapa da vida. Então, vale muito a pena.
Quais são os principais desafios diários do professor de EPT?
Em geral, primeiramente, são os meios para que essa educação técnica aconteça de fato, como equipamentos, laboratórios, infraestrutura. Na pandemia, sem termos esses meios e um ambiente correto e apropriado, foi um grande desafio o próprio acesso à internet pelos alunos e depois a manutenção do seu foco, sem que se distraíssem em casa, com o entorno, com barulhos etc. Foi necessário nós, docentes, nos reinventarmos a cada aula e nos esforçarmos para manter o interesse dos jovens no on-line. E agora, com o ensino híbrido, precisaremos nos reinventar outra vez, em uma nova adaptação. Outro ponto é a interdisciplinaridade, que é sempre um grande desafio no Ensino Médio integrado ao técnico porque exige fazermos todos os dias com que o aluno enxergue, por exemplo, na informática os conhecimentos da BNCC e assim por diante. Essa articulação dos diversos conteúdos é bem desafiadora.
Qual seria a formação ideal do professor de EPT?
Além da graduação na área específica, como administração, informática, entre outras, deveria ter uma pós-graduação em metodologias ativas de aprendizagem e uma especialização em docência. Ambas são muito importantes, tanto que vários dos nossos professores estão cursando a especialização em docência para que possam aprimorar o formato das suas aulas e colocar o aluno como protagonista.
Quais foram seus principais aprendizados na pandemia como professora?
São tantos. É difícil eleger. Mas o principal foi a empatia. Coloquei-me no lugar dos alunos e no lugar dos meus colegas professores. Muitos docentes não dominavam as tecnologias e precisaram aprender isso rapidamente. Mudei em mim esse olhar para o outro e fiquei mais empática. Juntos, criamos materiais atraentes para os alunos, tendo em vista o ensino remoto. Modifiquei metodologias e estratégias de ensino ao ponto em que hoje uso várias ferramentas que não utilizava antes da pandemia. Foi um enorme aprendizado.
O que você pode dizer para o professor que está chegando agora à EPT?
Ser professor de EPT é transformar vidas, é formar um profissional para além do mercado de trabalho e é ajudar na formação de uma sociedade mais justa, mostrando aos estudantes um universo de princípios e de possibilidades. Com certeza, o professor enfrentará muitas dificuldades, dado que a educação tem vivido a era tecnológica em meio a uma pandemia e tudo está acontecendo muito rápido. Mas é certo que a educação pública precisa ser de qualidade para todos. Por isso, ferramentas e metodologias precisam ser aplicadas por esse profissional, que também terá a oportunidade de aprender, de sair da sua zona de conforto e de entender um sentimento que só quem é professor consegue sentir, que é o poder de transformar vidas por meio da educação.