Dia Nacional da EPT: aluna de sistemas de energia renovável aponta aprendizados no curso técnico
De olho no futuro e nas possibilidades de inserção qualificada e digna, Maria Eduarda de Souza Lopes, 17 anos, escolheu cursar o ensino médio integrado ao técnico de sistemas de energia renovável. Curiosa e dedicada, a adolescente nascida em Brejo Santo (CE) e moradora de Araripina (PE) conta as descobertas que a formação lhe tem proporcionado como as atividades práticas de eletricidade. Ela é uma das alunas do currículo inovador da Escola Técnica Estadual (ETE) Pedro Muniz Falcão, criado intersetorialmente entre Secretaria de Educação e Esportes do Estado de Pernambuco, Itaú Educação e Trabalho, Auren Energia e Schneider Electric. Sua trajetória inspiradora encontra-se na entrevista a seguir, veiculada pelo Observatório da EPT para marcar o Dia Nacional da Educação Profissional e Tecnológica, comemorado em 23 de setembro, e para exemplificar a relevância dessa modalidade educacional.
Como se interessou pelo curso técnico?
Eu me inscrevi para a escola e, inicialmente, não iria cursar sistemas de energia renovável. Mas como todos estavam dizendo que era um curso novo, que as primeiras turmas seriam pioneiras, que a formação tinha muita relação com a nossa região, que está precisando de profissionais técnicos locais, de mão de obra local, eu me interessei pelo curso. Vi futuro nele. Vi que poderia ser uma área que me ajudaria mais para a frente. Como sou curiosa em relação a tudo, eu disse: ‘vamos entrar e ver como é essa experiência’.
Como tem sido a experiência?
É uma experiência muito boa, embora às vezes cansativa, porque é o dia todo e chego em casa cansada. O primeiro ano foi mais teórico e geral. Agora que estou no segundo ano tenho muito laboratório, atividades práticas e palestras. Hoje mesmo, um executivo da Auren Energia nos contou a história dele, muito bonita. Até me emocionei. Ele começou do zero, com curiosidade, e me identifiquei bastante com isso. Vou levar para mim uma frase dele: “Não sou mais inteligente que ninguém, apenas esforçado”. É isso o que eu quero: ser esforçada o suficiente para alcançar meus objetivos. Vejo que a ETE tem o potencial de me colocar para a frente e de me preparar na prática para o que eu já vou fazer e praticar lá fora.
Quais as principais dificuldades durante o curso?
A maior dificuldade tem sido passar o dia todo na escola, longe de casa, até cinco da tarde, ainda que tenhamos os intervalos e descansos. Mas, em relação ao curso em si, o tempo passa rápido. Estamos estudando muita coisa: energia solar fotovoltaica, eletricidade básica, eletrônica básica, pensamento computacional, porque precisamos mexer com o computador corretamente para conseguir desenvolver dispositivos, além de máquinas elétricas, que é onde já estamos praticando e aprendendo a montar circuitos (acender a luz etc.). Os professores preocupam-se demais com o cuidado nesse manuseio prático. Usamos EPIs [Equipamentos de Proteção Individual]. É tudo bem pensado.
O que foi mais marcante no seu processo de aprendizagem?
Primeiramente, foi saber como as coisas funcionam na eletricidade, porque não tem nada a ver com o que a gente pensa como leigo, sem conhecimento. E, além disso, aprender como é gerada a eletricidade, como ela chega até nossa casa, de onde sai e até onde vai, o que faz essa chegada acontecer etc. Existe todo um estudo por trás e é bem complicado. Outra coisa marcante é que não há muitas mulheres nessa área dos campos de energia solar e eólica atuando nos parques eólicos. Eu, como mulher, quero mudar isso. Não é só o homem que tem capacidade para subir uma torre ou para instalar uma placa solar. Quero mostrar que as mulheres também podem. Essa informação, que nos disseram em uma palestra, me deixou com mais sede de aprender. Podemos fazer tudo o que eles fazem, da mesma forma, e podemos ser técnicas em manutenção também. Mulheres têm a capacidade de estudar o suficiente, entender aquilo, subir lá na torre e fazer do mesmo jeito.
Quais os principais aprendizados até agora?
Aprendi o que são as energias e como funciona a oferta e atualmente estamos aprendendo como funcionam as redes internas, ou seja, como fazer uma luz acender, como montar o circuito para que ele não “dê fogo”. Para que isso não aconteça, precisamos seguir uma certa ordem e saber alguns conteúdos, para não gerar problemas. No próximo projeto montaremos uma minitorre eólica e estudaremos seu funcionamento. Já temos os componentes como as pás e o rotor; falta montá-la.
Você recomendaria o curso técnico para um jovem de 14 anos? Por quê?
Recomendaria super porque é como eu disse: a prática é muito diferente da teoria. Se você realmente tem gosto por saber como as coisas funcionam e de se preparar logo para algo que vai acontecer já na sua vida, mas que você vai ter que aprender não com a escola e sim com o mundo, então se você tem essa oportunidade de fazer isso já na escola e na prática, é melhor. A escola técnica está te preparando para o que você realmente vai fazer e não fica só na teoria. Também tenho a opção do vestibular, se eu quiser, e estou fazendo os dois, o lado técnico e o lado dos conhecimentos gerais, juntando o útil ao agradável. É muito bom. É uma opção muito viável. Se os adolescentes tiverem a oportunidade de entrar em um curso assim e se esforçarem o suficiente, conseguirão uma boa formação.
Ninguém da minha família fez ensino técnico. Sou a primeira. Meus pais sempre me apoiaram, confiam em mim, sabem do meu potencial e me incentivam muito a estudar. Meu pai está terminando a graduação de administração agora, embora já tenha mais de vinte anos de carreira em uma empresa. Minha mãe, que trabalha como gestora, pensa em fazer administração porque na ETE onde estudo também tem curso técnico para adultos à noite, que é o subsequente. Falei para ela que, se ela quer, ela consegue. Apoio muito a ideia.
Quais são seus planos para o futuro?
Atualmente, penso em atuar na área das energias renováveis porque vejo potencial nessa área e vejo que consigo. Acredito em mim. Quando terminar o curso, quero conhecer mais a área, entrar no meio e depois me desenvolver nele. Se, por acaso, não der certo, também posso ser vestibulanda e estudar para passar numa universidade federal em algum curso mais tradicional, como direito, ou até mesmo medicina ou odontologia. No futuro quero estar formada e ter minha casa e meu carro, por mérito meu. Vi que meus pais lutaram, passaram por dificuldades e conquistaram e quero seguir como eles. Por isso, todo dia luto para conseguir o que almejo e ter um futuro. Quem sabe na minha futura casa eu já faço a parte elétrica toda automatizada? ‘Pisei e tudo acende!’. E com placas solares para diminuir o valor da conta.