Itinerário contínuo de produção do cacau une ensino básico e superior na BA

Iniciativa

Itinerário contínuo

Estado

Bahia

Última atualização

09/08/2023 às 06:57

Data

23/03/2023

Formato

EPT nos Estados

Acesso

Livre

Itinerário contínuo de produção do cacau une ensino básico e superior na BA

A primeira turma de jovens começa em 2023 o curso superior de tecnologia em produção de cacau e chocolate na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), no novo campus da instituição, em Itabuna, que ganha o nome de Jorge Amado. Metade das vagas estão reservadas a estudantes de um itinerário contínuo, que acabam de se formar em 2022 no curso técnico de nível médio em agroindústria: produção de cacau, chocolate e derivados, ofertado pelo Centro Estadual de Educação Profissional do Chocolate (CEEP) Nelson Schaun desde 2020 de forma integrada ao ensino médio. 

Essa interrelação da educação básica com a superior, por meio da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), foi possível a partir de uma parceria desde 2019 da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, o CEEP Nelson Schaun e a UFSB, que desenvolveram em conjunto a iniciativa do itinerário, com o apoio técnico do Itaú Educação e Trabalho (IET).

Contexto

A importância de qualificar os jovens dessa região em um itinerário contínuo partiu do contexto da produção cacaueira no sul da Bahia, que tem alto potencial de geração de emprego e renda para os jovens e de desenvolvimento econômico local. Isso demanda a formação adequada dos profissionais para o manejo de novas tecnologias que maximizem a produção. Assim, como uma estratégia do estado, o itinerário contínuo pode contribuir para que a Bahia retome a posição de liderança histórica na produção e exportação do cacau, impactando positivamente também o Brasil.

“Existem poucas graduações focadas na agroindústria do cacau e do chocolate, o que faz com que o Brasil e a Bahia percam essa competitividade na produção dessa commodity, que é a terceira mais importante comercializada no mundo em termos de valor. É algo muito grande. Só dentro Bahia o cacau significa mais ou menos 70% da lavoura e concentra a maioria das grandes indústrias cacaueiras do país”, explica Marina Bomura, analista de implementação do IET, ao citar o Projeto Pedagógico do Curso de Tecnólogo.

Atualmente, há muito investimento em pesquisa e uso de tecnologias na busca de alternativas e diversificação das formas de plantio e de manejo do cacau, após os episódios da doença vassoura-de-bruxa, causada por um fungo, que destruiu maciçamente as lavouras. Desse modo, hoje tornou-se fundamental que as pessoas do próprio território se familiarizem com as novas formas possíveis de cultivo, que permitem aumentar a capacidade de produção e a inovação.

“Mas como os jovens locais podem ter uma qualificação ainda maior na sua formação, integrando dois níveis diferentes, que é a educação básica e a superior? Essa pergunta pautou a criação de uma matriz de competências do curso técnico pela secretaria. E as equipes da educação básica e da educação superior discutiram a possibilidade de o jovem ter uma continuidade dessas e de outras competências em uma formação de tecnólogo na universidade”, observa Jaqueline Pereira Vieira, coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação da Bahia.

O que é o itinerário 

Como resultado, o curso técnico de agroindústria é bastante focado na produção de cacau e chocolate, ao passo que o curso de tecnólogo na UFSB traz uma percepção maior da cadeia de toda a produção cacaueira, do plantio à comercialização. “Isso abre diversas possibilidades para os graduandos: escolher em qual etapa da produção preferem trabalhar, empreender, atuar em uma indústria ou incrementar o negócio da família, que já existe na região”, esclarece Beto Silva, especialista de implementação do IET. 

Os estudantes formados no CEEP Nelson Schaun podem concorrer às vagas no Centro de Formação em Ciências Agroflorestais da UFSB por um edital específico utilizando as notas obtidas nas últimas quatro edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A outra metade das vagas destina-se à ampla concorrência do público em geral. Na graduação, eles poderão validar créditos das disciplinas do curso técnico. 

“Além da vantagem de poderem entrar por esse edital específico, eles podem fazer um aproveitamento de estudos e créditos, em que o conhecimento que eles tiveram no curso técnico é reconhecido, valorizado e aproveitado no curso de tecnólogo. Ou seja, têm a oportunidade de otimizar o curso técnico deles e de se aprofundar em outros assuntos no nível superior”, avalia Francesco Lanciotti Jr., pró-reitor da UFSB.

Como foi desenvolvido 

Desde 2019 o processo de criação e implementação do itinerário contínuo exigiu integração e comprometimento entre a equipe da escola, da secretaria e da universidade. Já o contexto pandêmico demandou adaptações dos grupos de trabalho, que passaram a atuar de maneira virtual e a alinhar remotamente suas diferentes noções do que cada participante entendia por competências e habilidades. 

O trabalho coletivo incluiu ainda a realização, em agosto e novembro de 2022, de dois workshops (“Da Educação Básica ao Ensino Superior”) pelo CEEP Nelson Schaun junto com a universidade, com a participação de professores e profissionais do setor produtivo local. O objetivo foi complementar e reforçar, com discussões teóricas e ações práticas sobre plantio de cacau e produção de chocolate, os eventuais conteúdos de que os alunos do segundo e terceiro anos do técnico ainda precisassem. 

Na ocasião, estudantes do curso superior da UFSB também conversaram com os potenciais graduandos, levando-lhes um panorama da abertura de horizontes e dos ganhos da formação universitária. “O workshop foi muito interessante porque aprofundamos o conhecimento sobre o itinerário contínuo e sobre como acessar a universidade”, relatou Lívia Brito, então estudante do técnico em agroindústria.

Destaques da experiência

Entre os aprendizados da experiência pioneira, encontram-se a necessidade de comunicação clara sobre o que é o itinerário para as famílias e os jovens, incluindo os estudantes do nono ano do Fundamental, a fim de gerar boa adesão, assim como o envolvimento de professores da formação geral básica desde o início porque o desenvolvimento de competências requer uma atuação docente inter e multidisciplinar.

Pelo pioneirismo da iniciativa, educadores da universidade que compõem o grupo de trabalho foram convidados a relatar a experiência na formação de outras redes de ensino do programa Verticaliza, do MEC. A iniciativa federal visa ofertar no país um curso de aperfeiçoamento tecnológico para planejamento e desenvolvimento de projetos pedagógicos de cursos de educação profissional técnica de nível médio articulados com cursos de educação profissional tecnológica de graduação.

Próximos passos

Entre os próximos passos está o acompanhamento da formação dos estudantes da primeira turma que ingressou na UFSB em 2023, o que deverá gerar possíveis ajustes nos cursos. Cogita-se ainda uma eventual mobilização do setor produtivo local para que sejam criados programas de estágio e/ou outras ações de inclusão produtiva.