Parceria entre educação e setor produtivo forma jovens em Itabaianinha (SE)

Iniciativa

Curso técnico de modelagem do vestuário integrado ao ensino médio

Estado

Sergipe

Última atualização

06/06/2024 às 13:48

Data

05/10/2023

Formato

EPT nos Estados

Acesso

Livre

Parceria entre educação e setor produtivo forma jovens em Itabaianinha (SE)

Estudantes do curso técnico em modelagem do vestuário de Itabaianinha (SE) estão fazendo visitas técnicas ao Polo Têxtil desde setembro de 2023, onde conhecem de perto os processos produtivos. Esta atividade pedagógica, já no primeiro ano, é parte de algo maior: uma parceria de fôlego entre a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc), a Diretoria Regional de Educação (DRE), o Colégio Estadual Monsenhor Olímpio Campos (Cemoc) e o setor produtivo local, composto por dezenas de empresários do ramo da moda. O principal objetivo é qualificar e incluir os jovens no mundo produtivo, aproveitando a vocação da região para a confecção.

O estreitamento de laços entre as equipes da educação e dos empresários locais teve início em 2022. Pela primeira vez no estado, a escolha do curso técnico em modelagem do vestuário e a construção do currículo foram realizadas em parceria com o setor produtivo. Durante workshops participativos, os diferentes setores também estabeleceram qual o papel de cada um e as formas de colaboração durante a implementação. O resultado é que há hoje 28 alunos cursando o ensino médio integrado ao técnico, a maioria mulheres, além de mais 38 estudantes na modalidade subsequente e 20 na FIC (Formação Inicial e Continuada) desenhista de moda.

Outro ponto importante para a qualidade dos cursos técnicos é o processo de avaliação. Por isso, está em construção conjunta um modelo de avaliação técnica específica que ocorrerá de maneira piloto com os estudantes do curso técnico integrado e tem o objetivo de aferir as competências que foram aprendidas na prática. Uma das ideias aprovadas é a identificação, pelos estudantes, de problemas reais no polo e a construção e apresentação de uma solução no fim de cada ciclo (série) do seu percurso formativo. Tudo isso contará com a participação de representantes do setor produtivo local.

Os grupos de estudantes terão de justificar as soluções de forma teórica, colocar a mão na massa, criar o protótipo e, ao final, apresentar o trabalho para avaliação. A intenção é que, no fim de 2023, já seja promovido o primeiro evento de avaliação. Ainda como parte desse processo, deve ser realizado também o evento Cemoc Fashion Day, com apresentação dos trabalhos dos estudantes à comunidade.

Situada no sul sergipano, Itabaianinha tem cerca de 40 mil habitantes e entre 5 mil e 6 mil empregos, diretos, indiretos, formais e informais, ligados à confecção. O Polo Têxtil reúne cerca de 50 lojas de pequenos empresários do ramo da moda, restaurante, hotel, espaço para cursos e oficina com máquinas onde os estudantes terão aulas práticas. O polo surgiu do espólio de uma grande fábrica de roupas local, instalada no município nos anos 1990 pelo empreendedor Jairo Lima de Carvalho.

Aspectos determinantes do bom desenvolvimento da parceria têm sido a comunicação e o comprometimento efetivos entre os diferentes envolvidos desde o início e a participação em todos os processos. “A proximidade da escola com o polo mostra que essa relação está sendo construída de forma contínua. Não é algo pontual, em que a escola ou a empresa pede algo e depois se afasta. É uma relação e vai propiciar mais parcerias ao longo do tempo”, observa Valdecy Nascimento, analista de gestão do conhecimento do Itaú Educação e Trabalho (IET), instituição que tem facilitado os diálogos e encontros e ajudado a estruturar rubricas de matrizes e avaliações e cronogramas das ações.

Além do curso técnico integrado ao médio, também foi construído em parceria um itinerário formativo com conjunto de FICs – formações iniciais continuadas articuladas por cadeia produtiva (desenhista de moda, assistente em logística e promotor de vendas) –, que será implementado no itinerário de formação técnica e profissional do ensino médio em 2024. Uma das FICs (desenhista de moda) está sendo oferecida em 2023. Há ainda o curso técnico em modelagem do vestuário ofertado na forma subsequente.

Inspiração e expansão

O modelo de Itabaianinha deve ser levado a outras diretorias regionais de ensino de Sergipe e ser propagado pela rede. “Essa parceria é importante porque promove uma oferta em que o aluno tem acesso à atividade prática, começa a visualizar o que será a profissão, convive com o mundo do trabalho e pratica o saber-fazer. É um modelo em que está bem efetiva a junção da parte técnica com o pedagógico, o que permite ao aluno experimentar, vivenciar e construir um conhecimento baseado na prática laboral. O processo tem sido muito rico e nos ensina que não dá para pensar uma educação profissional longe do setor produtivo”, avalia Ione Moreira de Assunção, coordenadora pedagógica do Serviço de Educação Profissional (Sepro) da Seduc.

Para a professora Thays Ribeiro, a expectativa para esse semestre é de avanços na formação dos jovens. “O curso une o chão de fábrica à teoria, o que agrega bastante na qualificação. Sou muito apaixonada por moda e por educação, tenho ensinado e aprendido com eles e conto com o forte apoio da equipe da escola, que também incentiva os alunos a continuarem”.

Karla Santos, gestora da escola, ressalta os ganhos da parceria. “Nossos alunos ganham conhecimento para realizarem seus sonhos e projetos de vida e viverem dignamente. Há um reconhecimento pela comunidade escolar e pela sociedade em geral. Os estudantes se sentem importantes porque estão se desenvolvendo e desenvolvendo a cidade. É uma construção de mão de obra qualificada no próprio município, que sofre com falta de pessoal”, avalia.

Já para o setor produtivo, a percepção é que as ações em parceria estão contribuindo para as atividades produtivas locais. “O curso técnico junto com o ensino médio vai fazer toda a diferença para nossos jovens e para nosso polo. A gente buscava gente qualificada fora, no Nordeste e em São Paulo, e agora não vai precisar mais. Isso é um divisor de águas. Os jovens terão um leque de oportunidades, poderão evoluir na área e suas subáreas, até abrir o próprio negócio e ficar aqui na própria região”, analisa Rivanda Alves Fontes, empresária do ramo da moda e vice-presidente da Associação de Confecções de Itabaianinha.