Pernambuco faz escuta do setor produtivo para planejar oferta de EPT
O estado de Pernambuco promoveu, no fim de 2023, uma escuta do setor produtivo, em quatro Regiões de Desenvolvimento, dentro do planejamento da oferta de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) das escolas técnicas, que contou com o envolvimento de diferentes órgãos e secretarias do governo. O objetivo geral dos encontros foi entender as demandas dos vários setores e mapear as principais competências e habilidades necessárias para os profissionais de cada setor.
O que é a proposta
Representantes de empresas, cooperativas, associações e órgãos públicos locais participaram de workshops em Garanhuns, Recife, Salgueiro e Caruaru, em outubro e novembro de 2023, junto com gestores das regionais de ensino e das escolas, para que as informações colhidas pudessem subsidiar a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE) na definição dos cursos técnicos de nível médio e dos cursos de qualificação profissional a serem oferecidos pela rede estadual em 2025, assim como na revisão de cursos já existentes.
“Quisemos ouvir o setor produtivo para um realinhamento da oferta com a demanda, evitando a existência de cursos sem aderência nos territórios e com ociosidade, e para escutar as novas possibilidades de cursos porque estamos construindo novas escolas. Sabemos que não adianta fazermos ofertas ‘de gabinete’. Nossa intenção é termos cursos que, quando nossos alunos saiam, eles já possam ter empresa lá fora querendo contratá-los, ou já possam abrir um empreendimento”, afirma Ana Cristina Dias, secretária executiva do Ensino Médio e Profissional.
Como foi feita
A iniciativa de ouvir o setor produtivo partiu da Secretaria Executiva de Ensino Médio e Profissional (SEMP) da Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE) que buscou a parceria com a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (ADEPE), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDEC), com a Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE), ligada à Secretaria de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo (SEDEPE), e com o Itaú Educação e Trabalho (IET).
Papel dos atores
A AGE e a ADEPE apoiaram, respectivamente, na definição de quais setores seriam ouvidos e na mobilização dos representantes localmente, convidando-os a participar dos encontros. O IET contribuiu com a idealização e a facilitação dos workshops, integrou cada um dos grupos de escuta e foi o responsável pela sistematização de todas as contribuições colhidas. A partir da devolutiva das escutas, a SEMP poderá ajustar, transformar, ou iniciar os cursos.
“Nessa integração com a SEMP, nosso papel foi cuidar da articulação com os arranjos produtivos locais porque, por conta dos programas de fomentos e apoios a esses arranjos, já temos tudo mapeado e delineado. Listamos as entidades, associações, cooperativas e lideranças regionais que poderiam participar desse projeto e entramos em contato com a maioria. Durante os encontros locais, ganhamos muito em conexão e articulação com os setores, e a metodologia utilizada foi muito de construção e de encaminhamentos, o que é algo positivo”, explica Pedro Neves, diretor de Fomento, Inovação e Arranjos Produtivos da ADEPE.

Nos encontros, os participantes das dinâmicas foram divididos em subgrupos por expertise ou afinidade de áreas econômicas. Discutiram as habilidades e funções do presente e as tendências para o futuro de cada setor, para que as formações não se tornem obsoletas com o passar dos anos. Abordaram também o perfil do consumidor e relação com a comunidade, entre outros temas. Foi realizado ainda um mapeamento de todos os processos e da cadeia de produção para se chegar aos produtos ou serviços de cada setor, de maneira que a SEMP interprete os insumos coletados e, a seguir, defina os cursos técnicos ou faça revisões de oferta nas escolas técnicas estaduais.
A AGE trouxe alguns dos seus dados quantitativos, como os de microcrédito, e fez um breve estudo junto com a ADEPE e a SEMP. “Mapeamos os setores importantes do estado, entendemos onde seriam criadas as escolas técnicas e listamos quais parceiros locais gostaríamos de trazer para essa escuta. Esse trabalho intersecretarial dá mais força, segurança e qualidade para a tomada de decisão. Uma construção conjunta envolve saber escutar a expertise de cada secretaria para ampliar a visão, avaliar o cenário e construir algo bem mais robusto”, relata Angella Mochel de Souza Netto, diretora-presidente da AGE.
Quem participou
Os encontros reuniram diferentes setores produtivos em cada uma das quatro regiões:
- na região agreste meridional, aconteceu no Sebrae de Garanhuns, em 5 de outubro, agregando representantes dos setores de suinocultura, ovinocaprinocultura, laticínios e avicultura;
- na região metropolitana de Recife, o encontro se deu na Fiepe, em 9 de outubro, e contou com os setores de logística, indústria alimentícia, turismo e energia;
- na região sertão central, a escuta ocorreu na Gerência Regional de Educação (GRE) Sertão Central, em Salgueiro, em 13 de novembro, e teve a presença dos setores de fruticultura, apicultura e meliponicultura e energia solar;
- na região agreste central, o encontro ocorreu no Armazém da Criatividade de Caruaru, em 14 de novembro, com representantes da indústria têxtil e confecções, de tecnologia e cerâmica.
Destaque da experiência
Pela análise de Érica Teruel, coordenadora de implementação e desenvolvimento do IET, “a governança que inclui a AGE e a ADEPE cria uma política pública com uma visão sistêmica, e não só da área da educação. São inter-relações que podem abrir caminhos para outras ações e benefícios futuros, tanto para as secretarias, como para os estudantes. Além disso, a escuta ao setor produtivo contribui para co-responsabilizá-lo com a formação progressiva dos jovens do próprio estado”.
