Redes estadual e federal do ES cooperam na oferta de cursos concomitantes intercomplementares

Iniciativa

Parceria para oferta de cursos técnicos concomitantes intercomplementares

Estado

Espírito Santo

Última atualização

10/04/2025 às 15:34

Data

10/04/2025

Formato

EPT nos Estados

Acesso

Livre

Redes estadual e federal do ES cooperam na oferta de cursos concomitantes intercomplementares

Duas turmas, totalizando quarenta estudantes, formaram-se em 2024 em cursos técnicos de mecânica e de mineração no Espírito Santo, na modalidade concomitante intercomplementar, caracterizada pela oferta integrada, feita em parceria entre duas instituições, com a mesma matriz curricular, completa articulação curricular, compartilhamento de infraestrutura e de corpo docente e sem transferência de recursos entre os parceiros.

A cooperação técnica formal que está proporcionado essa oferta no estado ocorre entre a Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo (Sedu-ES) e o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), campus de Cachoeiro do Itapemirim (ES). Trata-se da primeira oferta concomitante intercomplementar do Brasil que acontece entre uma rede estadual e uma rede federal. Por meio dela, o Espírito Santo amplia e qualifica a oferta de vaga em cursos técnicos.

“A parceria com o IFES não envolve nenhum repasse financeiro entre as instituições e supriu nossa dificuldade de ofertar cursos mais complexos que exigem uma infraestrutura muito robusta, com laboratórios que atendem à complexidade do eixo industrial. Outro gargalo da rede estadual, que é a formação de professores, também foi contemplado nessa cooperação. Juntar as expertises dos docentes do IFES e as dos nossos está garantindo uma oferta mais qualificada e significativa para os estudantes”, analisa Matheus Corassa, subgerente de Educação Profissional da Sedu-ES.

O arranjo firmado entre as duas redes ainda em 2020 e iniciado na prática em 2021 continua com 40 novos estudantes todo ano. Agora, duas turmas irão se formar em 2025 (40 matriculados) e outras duas em 2026 (40 matriculados). Além disso, com a evolução da cooperação, dez outros campi do IFES no estado também estabeleceram parceria desde 2023 com a Sedu-ES para a oferta de outros cursos, na modalidade concomitante, com complexidade maior, como de agroindústria, agropecuária, aquicultura (cultivo de organismos aquáticos), estradas, metalurgia, eletromecânica e química.

A proposta curricular dos cursos de mecânica e de mineração é fruto de uma elaboração coletiva e de diálogo entre os professores da escola EEEFM Lions Sebastião de Paiva Vidaurre, com conhecimento da formação geral básica, e os docentes do instituto federal, experientes em formação profissional. A concepção das matrizes curriculares unificadas dos dois cursos demandou bastante integração entre os professores das duas instituições e representou um desafio no processo. Os cursos de mecânica e de mineração são relevantes para a região de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, porque vão ao encontro das possibilidades de inserção produtiva dos jovens em empresas do arranjo produtivo local, voltado às rochas ornamentais e à produção industrial.

Pela oferta concomitante intercomplementar do Espírito Santo, o plano de curso é construído em conjunto pelas duas instituições, e há uma integração curricular. Há vários pontos de integração previstos, e o aluno faz a formação geral básica em um turno na escola e a formação técnica em outro turno no IFES. Para auxiliar os jovens com os custos de transporte e alimentação, eles recebem do governo estadual uma bolsa de até R$ 400,00 por mês, por meio do Projeto iNovaTEC, estabelecido pela Lei Estadual nº 12.007/2023. Em alguns casos, entretanto, são os professores do IFES que vão à escola no contraturno.

Assim que inicia o curso, no primeiro módulo, o estudante tem acesso no IFES a disciplinas de recomposição de aprendizagem para que tenha os pré-requisitos para conseguir se desenvolver bem no curso técnico, assim como à infraestrutura do instituto. Eletivas também são ofertadas para integrar a formação geral básica com as temáticas da formação técnica. A integração curricular acontece principalmente por meio de projetos dos quais o jovem participa no IFES e na escola simultaneamente, ou de exercícios que unem os diferentes campos do saber, como língua portuguesa e mineração ou mecânica. A seguir, no segundo módulo, têm início as disciplinas técnicas.

A cooperação técnica conta com um professor articulador, que é da escola estadual e acompanha a vida acadêmica dos alunos no IFES. Ele vai ao instituto federal e monitora a frequência e o desempenho acadêmico, além de cuidar da orientação e da tutoria dos estudantes.

Os impactos positivos nos estudantes têm se dado por meio de algumas contratações pelas empresas locais, antes mesmo de se formarem, e pela continuidade dos estudos na graduação de engenharia mecânica ou engenharia de minas. “Ao combinarem o ensino médio com a educação profissional técnica, os jovens têm tido um aprendizado interdisciplinar e um desenvolvimento de habilidades técnicas. Além disso, observei um crescimento comportamental neles, como a empatia, o companheirismo, a comunicação e o senso de liderança. Isso ocorreu em todas as turmas, tanto nos concluintes, quanto nos que ainda estão cursando”, relata a professora e ex-professora articuladora do curso, Pollyne Louzada.

Segundo ela, para os professores da escola-piloto da parceria, a Lions, o intercâmbio com o IFES trouxe uma nova perspectiva para a educação, permitindo o desenvolvimento de aulas inovadoras, com base em saídas pedagógicas diferenciadas, como a sala de aula invertida, os trabalhos integrados e o uso de impressora 3D.

O professor Edson Peixoto, que é o diretor geral do campus do IFES de Cachoeiro de Itapemirim e está envolvido desde o início da parceria, avalia que a cooperação técnica com a rede estadual alcançou uma eficiência acadêmica na integração curricular. “Temos um coordenador pedagógico aqui no IFES e um na escola para cuidar do curso, pensando sempre que o aluno é um só, então, tudo tem que ser muito casado. Por isso, participamos de reuniões aqui e lá, e os professores da escola também. É uma integração real, bem feita e articulada que está gerando resultados positivos: registramos índices de aprovação em alguns cursos beirando os 90% ou 92%”, relata.

O pioneirismo do modelo de cooperação técnica entre Sedu-ES e IFES despertou o interesse da área de Projetos da Diretoria de Articulação e Fortalecimento da Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (MEC), cuja equipe realizou visita técnica presencial à escola estadual em abril de 2024 e manifestou o interesse de expandir essa experiência para outros estados.